segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Espaço público

Estação Carioca, 13:30h, um calor típico do verão carioca. O metrô chega, para, abre as portas e o sujeito apenas se lembra de que vive em um balneário quando se depara dentro do vagão com pessoas usando sandálias e bermudas floridas e portando cadeiras de praia no início da tarde de uma segunda-feira. Não é mole essa vida.

Ao lado, uma moça pronta para ir a academia faz alongamentos numa das barras. Um pouco mais à esquerda, de pé junto a porta do meio do vagão, um casal saído de algum dos escritórios do centro começa a trocar beijos e carícias um tanto tórridas. Aos poucos, a atenção do vagão, que enche um pouco mais à cada parada, começa a se voltar para a dupla. Me lembro que há poucos dias havia testemunhado cena semelhante em um dos vagões só que, ao invés de estarem em trajes formais, o casal usava o uniforme do colégio e ninguém dava a mínima. São as mazelas da vida adulta.

Na verdade, a cena era tão inusitada que a partir de um determinado momento comecei a considerar a possibilidade de que o casal estivesse atuando para algum comercial ou que participássemos de algum experimento com câmera escondida, mas passados alguns minutos meus devaneios são interrompidos por um sujeito à minha frente que, impaciente, olha para uma amiga e diz:

- "Ah, não! Vou tirar uma foto dessa parada!"

Ato contínuo, saca um smartphone do bolso e faz uns dois registros fotográficos daquela cena pitoresca, exibindo as imagens para a tal amiga que está num dos bancos à sua frente. Algumas gargalhadas já são ouvidas no vagão. O casal, no entanto, parece não se importar e dá continuidade às suas atividades. Não satisfeito com a qualidade do material obtido na primeira sessão de fotos, o sujeito aponta o celular novamente e diz, alto:

- "Dá mais um beijo, mermão!"

Pedido atendido e prontamente agradecido pelo fotógrafo:

- "Ah, moleque!"

Minha estação chega e desço. O casal segue viagem. O fotógrafo também desce, teclando alguma coisa em seu celular, quem sabe postando as fotos em alguma rede social. Paro para recarregar o cartão do metrô e fico pensando em como é engraçado que após a convergência digital, o espaço público tenha deixado de ser um vagão, uma praça ou uma rua para se tornar, de uma hora para outra, o mundo.

2 comentários:

Bruno disse...

Voltei a ler o "Latão" hoje, jovem. Muito bom! Aguardo posts novos, ok? [ ]!

LF disse...

Fala, bicho. Escrevo muito pouco aqui. Mas, de vez em quando, pinta uma história. :) rsrsrs