Apesar de estar a apenas uma ponte de distância do Rio de Janeiro, Niterói não é tão pródiga em transporte coletivo quanto à sua vizinha. Sexta-feira, 11 da noite, depois de alguns chopps e bolinhos de bacalhau, estávamos de pé em uma avenida esperando pelo ônibus que nos traria de volta à cidade maravilhosa. 10 minutos, 20 minutos, meia hora e nada. Já começávamos a nos acostumar com a ideia de gastar um rio de dinheiro num táxi quando, de repente, surge uma van com "Copacabana" escrito na placa junto ao para-brisa.
- Vai pela praia do Flamengo, chefe?
- Vamos sim!
Beleza, conseguimos o nosso transporte, meia hora e estaremos em casa. A van segue o seu caminho pela ex capital fluminense, pegando outros passageiros enquanto observamos a paisagem do outro lado da baía da Guanabara. Mais uma parada e o sujeito chega até a porta e pergunta:
- Aí, tu vai por onde?
- Tu quer ir aonde?
- Passa na rodoviária?
- Não...
- Ah...
- Mas, vai, eu passo por lá. Sobe aí.
"Caralho!", penso. Olho pra minha noiva e comento, em off, "pode botar mais 20 minutos de viagem aí". O motorista começa a arrancar e duas meninas chegam correndo:
- Passa na Lapa?
- Err...
- Não?
- Sobe aí, dou um jeito.
"Nada é tão ruim que não possa piorar", é o que me vem à cabeça. Começo a me sentir como aquele garoto que é o último a ser entregue pela Kombi escolar... Última parada antes da ponte, um sujeito solitário aguarda a van. "Deus queira que não seja para Campo Grande", penso.
- Passa na Central?
- Sobe aí!
Menos mal.
Atravessamos a ponte e seguimos em direção à rodoviária e demais destinos onde deixamos os felizes passageiros adquiridos nos últimos momentos da van em Niterói. Depois disso seguimos, finalmente, para a zona sul. Saindo da Lapa, o motorista pega o aterro e vai embora. Dou uma cutucada no ombro do sujeito e pergunto:
- Cara, você não ia pela praia?
- IH!! É mesmo! Esqueci! Calma, é só fazer o retorno ali na frente.
Seguimos mais um pouco pelo aterro, retornamos e somos deixados na praia do Flamengo para uma caminhada até em casa discutindo o Rio de Janeiro e a informalidade.