sábado, agosto 19, 2006

Metrô

Quarta, nove e pouco da noite, Estação Uruguaiana. Acabo de descobrir que havia deixado o mp3 player no trabalho e a viagem até Botafogo, apesar de ser curta, mereceria essas quatro ou cinco canções. Pois bem, eis que o metrô chega. Entro, me posiciono de pé, entre a porta e o assento reservado para "idosos, gestantes, pessoas com crianças de colo ou portadoras de deficiência física". A viagem prossegue. Carioca, Glória, Catete, Largo do Machado.

"Próxima parada estação Flamengo. Next Stop, Flamengo station."

A senhora ao meu lado me cutuca.

- Pois não?
- Você vai saltar em Botafogo?
"Merda."
- Vou.
- Vai em que direção?
"Caralho. Respondo a verdade?"

Pequena pausa, respiro fundo.

"Foda-se, vai a verdade. Quem mandou esquecer o mp3 player?"
- Vou subir a Voluntários.
- Eu também. Você pode me ajudar com essa sacola?
"Céus!"
- Claro.
"Pqp, isso deve estar muito pesado... Será que é pegadinha?"

Procuro alguma câmera e não vejo nada.

"Próxima parada, Estação Botafogo. Integração para a Urca. Next stop, Botafogo Station"

"Ok. Here we go."

"É.. Até que é bem leve."

A senhora se levanta, usa o meu braço como apoio e seguimos caminhando pelas escadas até a saída da Voluntários. Após alguns minutos de silêncio, começamos a conversar:

- Você vai seguir até que altura?
- Até a Real Grandeza.
- Eu vou até a Paulo Barreto.

Nos quarteirões que se seguem recebo dicas de compras baratas ("o Sendas é muito careiro"), de linhas de ônibus mais convenientes que o metrô e das vantagens de se morar em uma casa, ao invés de um apartamento. Como era de se esperar, dada a má fase deste que vos escreve, ela morava numa das últimas casas da rua e a caminhada foi bem mais longa do que eu imaginava.

A deixo então na porta de casa, recebo mais uma dica de atalho e sigo meu caminho. Terminei o dia me sentindo um escoteiro.

sábado, agosto 12, 2006

Tanto tempo sem publicar que até o layout do blogger mudou e estou tendo dificuldades em escrever qualquer coisa aqui. Parece que há até espaço para imagens, vejam vocês. São outros tempos: banda larga, hds gigantes e por aí vai. Some-se a isso o aquecimento global, a guerra no líbano e o fato de eu ter tirado carteira de motorista e a hipótese de estarmos perto do apocalipse deixa de ser desprezível.



A imagem acima é de um coletivo em Santiago do Chile, em dezembro do ano passado. A capital chilena conta com um eficiente sistema de metrô. Entretanto, os ônibus que circulam pela cidade são muito velhos. Esse aí era dos melhores. Alguns acontecimentos:

* Cheguei ao aeroporto, encontrei minha amiga e pegamos um ônibus até uma estação num subúrbio qualquer. De lá, pegamos outro ônibus para a casa dela. Chegamos a uma avenida muito movimentada e ela deu o sinal. O motorista, que estava parado no sinal, abriu as portas no meio da avenida e nós descemos com mala, mochila e tudo mais e atravessamos as pistas, correndo, com o sinal já aberto. Rio de Janeiro style.

* Não há cobrador. O próprio motorista recebe e te dá um tíquete que você deve manter ao longo da viagem.

* No ônibus, indo de Las Condes para Providencia, sobe um jovem pela porta da frente. O discurso é o mesmo. "Estou desempregado, tenho família, 5 filhos, deus abençoe a todos"... Devo confessar que foram os únicos 5 minutos em que entendi tudo o que um chileno falava, mesmo não entendendo quase nada de espanhol.

* Também há vendedores que sobem e descem o tempo todo dos ônibus: balas, guloseimas, santinhos e por aí vai.

* No ponto do ônibus, esperando o coletivo para ir ao estádio nacional, ver a final do campeonato. Estava com o Pablo, que não falava uma palavra em português ou inglês. Eu não falava espanhol. De qualquer maneira, deu pra entender quando ele disse que aquele grupo que vinha correndo em nossa direção, tentando alcançar o nosso ônibus, era de torcedores da Universidad do Chile, "la barra más fanatica de Chile" e, que se eles começassem a cantar, pra gente cantar junto, senão entraríamos na porrada. "Ótimo. Posso tentar dublar..", pensei. Mas, no fim deu tudo certo. Devia ser sacanagem do Pablo. De qualquer jeito, enquanto subíamos a avenida que dava acesso ao estádio, torcedores da referida equipe fizeram um mini arrastão e levaram as camisas de umas pessoas que estavam à nossa frente. O jovem Pablo ameaçou entrar em pânico, tentando me explicar que as coisas não eram bem assim. "no hay problema, ya estoy acostumbrado, amigo!".