terça-feira, outubro 07, 2003

Lugar comum

Quinta-feira passada resolvi ir ao Independência ver um jogo do Atlético. O resultado foi que tive que pegar um ônibus na Praça da Liberdade por volta das 17:30. Dia ensolarado, calor de matar e o ônibus veio, lotado, como era de se esperar. Alguns pontos adiante vejo um sujeito vestido de palhaço passando pela roleta. "Eita, lá vem...", pensei. É interessante notar que, agora que a concorrência pelo comércio dentro dos coletivos está mais acirrada devido aos meninos das balas, o pessoal do teatro resolveu pagar a passagem para vender seu peixe.

Enfim, o cara, com muito custo, se estabelece no meio do corredor e começa o originalíssimo discurso: "Boa tarde, gente! Meu nome é fulano de tal e faço parte do Grupo Teatral Alguma-Coisa-Feliz. A gente faz apresentações em creches, em hospitais infantis onde estão internadas crianças com leucemia e até mesmo com aids e em asilos. Infelizmente, não contamos com nenhum apoio do governo ou de patrocinadores e, por isso, estou aqui vendendo esse cartões e contando com a contribuição de vocês..." e por aí vai. E então recebe-se um cartão onde está impressa alguma mensagem tão alegre quanto artificial.

Olha, pode até ser que a pessoa seja a mais bem intencionada do mundo e que o tal grupo seja idôneo, mas é muito, muito difícil crer no que está sendo dito. Um discurso enlatado, decorado e vazio. É uma estratégia tão batida que vulgarizou a leucemia, a aids, a velhice e a solidão. Não comove mais ninguém.

E, ah, o Galo ganhou naquele dia.